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DO LADO DE DENTRO

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O mistério revolta e atrai - é a lei da vaidade. Já a liberdade pode ser leviana, invasiva.  Seja dada ou concedida, prefiro só o que me pertence.  Passei do tempo de usurpar acessos.  Pois neles encontrei cofres e túmulos o tempo desgastou lutos e valores que talvez nem fossem meus.  Ganhei do vazio o meu recomeço.  Recebi novas chaves que abrem e fecham.  Agora do lado de dentro. Ainda prefiro gavetas vazias do que portas fechadas.

Comer suposições

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Sacia no sabor do momento. Sou do tipo que esquece conversas para evitar relê-las e, no afã de vãs suposições, retê-las.  Tem maturidade que demora, mas chega. E tem fruta desfrutada ainda azeda.  É fome que não alimenta.

A CHAVE

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Não consigo entender muita coisa.  E é preferível MESMO não ter todo o conhecimento.  Quero ainda ser capaz de me surpreender. Mesmo tímida e às vezes cansada,  porque duvida se espera ou caminha adiante,  essa vida me ensina que estou aqui é pra desaprender. A gente nunca sabe sentir.  A gente só sente.  Quando encontra a alma de alguém e ela te olha de volta,  perde todo o controle. Por isso há tanta gente fechada para o amor. "Quem diz que me entende, nunca quis saber".  Amar nunca precisou de explicação.

SANTOS NA SELVA

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Alguém me disse que um pássaro doce e gentil cantando suave com o bico voraz também despedaça minhocas. É possível gozar sangue. É possível chorar sal e a melhor carne é a que foi amaciada. A caça camufla os bichos com a noite. E na luz natural do dia também planejam açoites e esperam, pacientemente à espreita porque têm fome. Não existem santos na selva e alguns venenos não matam, mas têm o gosto ruim. Minha'lma neste instante gorjeia. É uma satisfação estranha de quem apenas engoliu o abate sem saber direito o porquê.  26/09/2008

RASCUNHOS ARRISCADOS

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A loucura já é repleta de eventos e tamanhos significados.  Mas talvez não seja suficiente para minhas realidades. Não sei mais se é melhor eu ser encontrado. Como conectar-me, já aprendi. Agora me diz como desliga essa porra. É um senso de querer viver, numa base que nunca tive um misto de tristeza com gratidão C A T A R S E. Que saia tudo, mesmo. E que fique bem leve.  E vazio o suficiente para caber somente eu. É tudo o que preciso no momento. Se eu pudesse ver dos teus olhos veria os olhos meus e, dentro deles, os olhos teus. Um descaminho basta para tudo ficar denso e complexo. Um descarinho basta para tudo ficar desbotado e simples. O poeta espera sempre pelo melhor.  No fundo, a melancolia é assim. Embutida de uma raiva ainda egoísta, evaporada pelas letras ferventes, escapulidas dessas torrentes de uma emoção tão necessária de se ausentar. Você não vê, mas está lá. Existe sim uma rede invisível e prática que muitas vezes nos sustenta. Um carinho, uma me

O FATO DE NÃO SER PAI

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Sala de espera. Uma criança chora. Os pais não tem paciência e revezam o bebê de colo em colo enquanto ele faz o que quer. Ao lado, dois pré adolescentes não param de falar enquanto revezam o tempo entre disputas de jogos de celular e bater a mão na bolinha de plástico da piscina, evitando a todo custo derrubar no chão como se não existissem pessoas ao lado. Eu saio do lugar e procuro um banco distante. Como estou velho, penso. Que falta de educação, penso novamente. Cheguei no horário e deixaram uma paciente atrasada 15 minutos passar na minha frente. Que falta de respeito. Mas a menina da recepção se confundiu. Como sou intransigente, penso novamente. Mas hoje é sexta feira e eu só queria ver meu amigo se apresentar numa linda apresentação de dança contemporânea que começa daqui a pouco. E continuo esperando. As crianças já se foram. Celebro o fato de não ser pai. Na Tv, ouço a notícia: Aumentaram os partos na cidades de SP. Suspiro fundo. O fato é que ninguém gosta de fila.

Linhas de expressão

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Um rosto molda-se vulto, ri-se caricatura.  um rosto em sombra  outro rosto em luz. Rostos em sulcos, rostos invólucros. Faces cheias de expressão são pura apatia quando escuridão.  Ressalta, esconde, finge duas caras. Quem é o rosto que te encara?  Lembra-se da imagem que reflete ou da que sabe.  Sabe-se?  Um rosto sempre é o que o tempo quer.

DOS PEDIDOS QUE NÃO FIZ

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De tanto ser deslocado, aprendi a transitar.  Quando esperava o ponteiro  chegar no minuto seguinte,  anoitecia. E o luar foi a única companhia.  Quando muito, uma estrela cadente. E eu não sabia fazer o pedido.  E ela passava rápido demais, perdia.  Esperava a seguinte, mas não vinha.  Até que parei de me surpreender! Depois que as horas pararam, eu esquecia o que via, até parava de procurar, mesmo à luz do dia.  Era tudo a mesma coisa, sempre a mesma ladainha,  só mudava a cor do céu enquanto eu me desbotava,  me esvaziava e me preenchia,   pelo menos de ar,  pra continuar existindo. E assim me deslocar  até o instante se tornar a razão  mais importante de transitar.  Quem sabe um dia nossos  tempos se encontrem.  13/07/17 00h14

DO LIVRO DAS REVELAÇÕES

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São os detalhes que nos tornam únicos Das mínimas coisas a memória é feita a gente é muito mais que pele. E nos pequenos gestos vasculhamos nossos universos em busca do mesmo, do velho... amor. A busca inconsciente e ávida por coisas pouco notadas não mais pelo senso viciado de novidades, ainda sem a tênue percepção de que o extraordinário sempre esteve lá. Perto do fim morrem sensações ilusórias do que temos pelos símbolos que vestimos quando nos permitimos despir coisas comuns medos expostos, sensações antigas e guardadas pelo ledo engano de que neste mundo elas nunca mais serviriam, consumidas pelo tempo. Esta mania humana de por fim nas coisas como se elas terminassem - o que pretensiosamente chamamos morte, como se tudo encerrasse ou desaparecesse. Mas os detalhes revelam tudo. É nesta hora que prevalece o senso comum, a sensação mediana, medíocre, a semi-vida. O Purgatório revela o que ninguém quer.

saudade 171

E quando a saudade nos assaltar? Levantaremos os braços, entregaremos tudo, arriscaremos a vida arrancando-nos a realidade? Morreremos por outras mãos ou viveremos livres e blindados?

Razões do corpo

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Meu corpo não comporta o pouco Quer tudo intenso Ficou por tanto tempo à flor da pele Elevou-se em doses Que o carinho se tornou dormente A pele grossa e o nervo que demora a enrijecer pois não descansa no afã de ser sempre pleno até doer o escroto Revolve em fantasias Pra alimentar desejos e drena tudo explode ao ponto de se esvair e me melar inteiro meu prazer me abandona Invade a culpa anônima O vazio de não existir de verdade O tempo escorre em claro e escuro O cheiro é só do que sai dos próprios sexos Deve ser por isso que nunca se encontra Evita o odor alheio O toque em lugares indesejados Apaga-se o mistério De percorrer um corpo inexplorado Sem paciência em descobrir o outro E o membro flácido ejacula precoce e tímido Quem é o outro pra desvendar meu corpo? Quem sabe da exata intensidade da pressão nos meus mamilos sou eu! Aperto meu pau de um jeito que nenhuma mão irá apertar Enfio os dedos de um jeito que só a
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A mentira finge que eu não sei. E eu pergunto como se nada soubesse. A resposta vem com toda a convicção.  E eu esmiúço o assunto  em pequenas novas perguntas  adjacentes,  para observar o fio vestindo tecido.  É impressionante como tem gente  que se veste sempre do mesmo jeito. A moda muda, e continuamos ridículos se insistimos em cobrir por causa  de nossas pequenas vergonhas.  A beleza é sempre tão fingida!
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ABANDONO Não fujo mais. Se é feio ou bonito, se atrai e assusta, Não nego: meu gozo ainda dói. Tenho medos que são virgens mas agora insisto na dignidade destas vergonhas. Não quero prazeres dormentes. Que doam Que esfolem Que sangrem Que me matem  estes prazeres ocultos. Levem tudo. E me deixem, finalmente, nú. Nascerei, então,  com a consciência livre de toda decência impura.

TRAVA LÍNGUA

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Já disse palavras de todos os tipos quem sabe tudo o que poderia ter sido dito as palavras exatas, as ditas prolixas as rasgasdas feito lixas fugindo como se não quisessem dizer prendidas por muito tempo saíram e só nas sutilezas de todas as certezas apreendidas vomitei contradições inverti rotas como quem arrota   sílabas curtas e grossas haviam também palavras lindas lisas, lânguidas grunhidos amorosos insossos distoantes da consoância de pensamentos verborrágicos assintomáticos, hemorrágicos, a psicossomatizar tatuagens escondidas meus ossos foram talhados de alfabeto antigo inaudito mas de significado profundo ora dizia mais vogais do que qualquer outra letra sabe o som que a gente finge que entende? é o ouvido restrito de dentro surdo abafado   graves intenções marcando ritmo sinto ao me lembrar   de uma voz cheia de efeitos e pouco sentido depois disso vieram as palavras mista

O silêncio que liberta palavras

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Recolhi muitas palavras.  E o silêncio invadiu-me para roubà -las .  Ouço desde então os vazamentos e os rangidos agredidos.  Os aparelhos continuam funcionando  mesmo quando não são vistos.  E  se desgastam.  Foi lá que o sussurro do vento  ficou parecido com a minha respiração.  Perturbou-me estar vivo desse jeito!   Pois o equilíbrio todo desorientando estava surdo.   Não me ouvia. Palavras guardadas num lugar onde não lembrava.   Pareceu me bem ficar assim : como terra sem do no,  onde o olhar não começa nem termina,  mas ninguém se apropria quando nela se encontra.   É o tipo de lugar onde a maioria das pessoas vai só de passagem. Quase ninguém tem coragem de ser morada de si mesmo.  Só me sabe o recomeço dessas cercas que não existem mais.  E a não existência pode ser assustadora.  Mas logo vem a serenidade.   Interessante como a ausência torna o futuro lento.   E passado é o mais acelerado dos tempos. Liberto, sinto meu presente fecundo.  Já posso fica

Momento presente

Um gesto. Um olhar. Um toque.A simplicidade O sorriso gentil.A companhia. Parceria. História. Toda simplicidade. O jeito de ser. Aprendizados. Pequenos carinhos. Grandes cuidados. Olhar de verdade. Ouvir de verdade. Saber de verdade. A diferença no mundo: querer ser. Evidências que valem todo o momento presente.

ESBOÇOS

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Não sei como se veste, nem quais são seus amigos. Qual é a tua cor e o que te descolore também. Mas eu provo do gosto de teu silêncio, pois bebemos de fontes parecidas.  E em algum rosto te reconhecerei por aí, mesmo que já tenha te visto. Quando te achar,  darei-me o direito de me perder. Agora já sei como voltar para mim.

CONVERSO COM OS BICHOS

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Natureza selvagem,  tempo orgânico regido pela chuva;  aqui eu converso com os bichos.  Todos, principalmente os de dentro.  Há de se desenvolver uma linguagem própria,  compreender territórios,  respeitar o ecossistema para a preservação  das espécies que em mim habitam.

FILHO DA MÃE

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Minhas lembranças de filho da mãe não são muitas. De quando eu caí e bati a cabeça e ela veio apertar uma faca com sal no galo que se formara, do cafezinho feito por suas mãos para entregar ao meu pai, numa obra acompanhada por ele exatamente do lado da casa onde morávamos, dos presentinhos manuais que eu fazia na escola e entregava para minha avó com certa frustração, e do inevitável dia da fuga,  após uma briga dela com meu pai e muitos objetos jogados no chão- e eu tinha lá pelos meus quatro anos - migalhas nervosas do tipo ' a mamãe vai embora mas ama vocês' . Cresci aprendendo que era errado procurá-la ou falar seu nome. Alice tinha nos abandonado, traído meu pai com o amigo, sumido do mapa. Até de macumba contra o meu pai e a então nova namorada, foi acusada. Cresci assim, meio sem colo, sem ventre, sem cordão umbilical. Passei boa parte da vida tentando me reconectar. Com o espiritual, reconheci por um tempo Maria como a mãe universal, mas, ainda na adolescência, parti

DESPEDAÇOS

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A perda chega a desconfigurar alguém. Dessa massa disforme, desse pedaço que falta e flutua, dessa ausência que nada preenche, dessa sombra tamanha onde é difícil acostumar o olhar sem luar, da matéria escura, do pó das estrelas, do céu que ainda se vê e não existe mais.... Ainda será Universo. A forma que encolhe para expandir. A Vida na minúscula partícula. A volta. O início que era - já foi um fi m. A dor de morrer talvez seja a mesma de nascer. E o que há entre estas... Ah, o que há... entre a dor de mudar de forma, de encaixar nos novos espaços, tornar presente e expandir, sobejar, gerar constelações que talvez nem vejamos frutificar no céu, lembrança do brilho do que um dia já fomos; será vida para os olhos de quem vê e se sente vazio, ofuscado por sentir-se perdido. Somos feitos dos mesmos vazios para preenchermos o espaço do todo. Mas tudo é mais além, não cabe em nós. Espaço de chão. O espaço é um pedaço de chão. 

NÃO SENTIR

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O que só eu vejo é o que me assusta mais. É um tipo de medo sem calafrios. Aquela dor que está ali e não dói mais .  O não sentir é o que existe do outro lado, como um buraco negro. O silêncio é testemunha que não depõe. Ele viu tudo, ele sabe tudo, ele tudo atrai.

O AR QUE EU RESPIRO

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Um dia eu desejei estar no palco. Reconheci minha vida ali e não esqueci mais.  Os anos passando e uma agonia seca me sufocava ao ponto de inundar meus olhos, quase me afogando, dentro de um ônibus qualquer a caminho de mais um trabalho. Pensei: "talvez seja tarde demais" - e a vida me responde de um jeito inusitado, com uma frase que ouvi de um grande ator que começara sua carreira aos 35 anos, proferida em uma entrevista dada à um programa banal de TV qualquer. Estava eu num bar, perdido e sujo, num lugar onde nunca havia estado antes. Completamente sozinho. Creio que são em situações assim que o momento de decisão acontece, a chave acessa e a página vira. E dali me entreguei a viver no risco, expor os sentimentos, revirar as histórias interiores em busca de verdades, entregar o corpo, usar os movimentos e a voz para que a arte os usasse e produzisse o efeito que quisesse. Desde então, não sou mais o mesmo. Não me importo se melhorei ou piorei aos olhos de quem me viu u

Porque sim? Porque não.

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Se justificar acaba sendo sempre a pior reação que alguém poderia ter frente a um diagnóstico ou julgamento. É uma merda quando o diálogo não reflete realmente o que as pessoas querem dizer.  A percepção chega num nível incômodo tão esclarecedor que o mais correto é rir ou ignorar certos comentários previsíveis e seguir em frente com a sua própria verdade, mantendo a humildade para ouvir em silêncio ou a ousadia e maturidade para corresponder sem ironia e não enfraquecer relações construídas em confiança.  Egoísmo e carência todo mundo tem. Dá para continuar amando e apoiando sem entender.  E isto não é para os fracos.